Quando o neto Eduardo, de 7 anos, passou a ter aulas online em casa, a avó decidiu que estava na hora de recuperar o tempo perdido e se juntou a ele para aprender.
A educação no Brasil tem sofrido prejuízos profundos desde o início da pandemia. Alunos e professores tiveram que se adaptar às aulas virtuais. Tem sido um desafio enorme para muita gente, mas também houve quem visse nessa situação uma oportunidade valiosa.
Dona Marlene: O gato gosta da gata, já o pato gosta da pata. Será que eu li certo?
Repórter: Leu sim, dona Marlene.
Cada frase é uma conquista. “Ter 63 anos, aprender a ler e a escrever, vocês pensam que é fácil?”, indagou.
A infância foi na roça. Precisava ajudar os pais, e a escola ficou para trás.
“Eles achavam que a gente só tinha que aprender a trabalhar na roça, porque eles não sabiam ler e escrever. Então eles achavam que não precisava a gente aprender”, contou a aposentada Marlene Hinckel.
Por mais de seis décadas, as letras não faziam sentido para a Dona Marlene.
“É muito ruim. Você chega no mercado, vai comprar as coisas e não sabe o que que é, porque tem o nome e não sabe ler”, lamentou.
Essa história começou a mudar por causa da pandemia, quando o neto Eduardo, de 7 anos, passou a ter aulas online em casa. Isso mexeu com a curiosidade da avó, que decidiu que estava na hora de recuperar o tempo perdido. E, assim, Eduardo ganhou uma nova e dedicada colega de classe.
A disposição da veterana da turma encantou a professora: “Eu fiquei muito emocionada, eu fiquei muito surpresa. Eu realmente não esperava que eu fosse conseguir ajudar assim alguém dessa maneira, sem nem estar esperando, sem nem imaginar”, disse a professora Caroline Floriano.
No papel, Dona Marlene ensaia as primeiras linhas de quem teve a coragem de escrever a própria história. Um caminho longo, mas ela está em boa companhia.
Fonte: G1