Um homem tetraplégico, paralisado do pescoço para baixo, foi capaz de gerar letras em uma tela de computador em tempo real ao imaginar estar escrevendo com uma caneta na mão.
Para realizar a façanha, os cientistas usaram chips implantados no cérebro do paciente para detectar os padrões cerebrais envolvidos na escrita de cada letra. Eletrodos transferiram esses padrões a um algoritmo capaz de ler e traduzir a atividade cerebral –o movimento detectado no cérebro correspondente a uma letra se tornava a versão digitada em uma tela.
A descrição do experimento realizado com o aparato, um tipo de interface cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês), foi publicada na revista científica Nature em 12 de maio. Esta é a primeira vez que cientistas identificam os padrões cerebrais relacionados à escrita manual e os transformam em texto.
O trabalho foi realizado por pesquisadores das universidades Stanford, Brown e Harvard, todas nos Estados Unidos.
Usando a máquina, o participante do experimento, um homem de 65 anos de idade, foi capaz de digitar com uma velocidade de 90 caracteres por minuto –semelhante ao que pessoas na mesma faixa etária conseguem fazer usando um telefone celular, segundo artigo publicado em 2019. A escrita realizada com ajuda da interface marcou acerto de 94%.
Uma parte dos pesquisadores envolvidos na pesquisa havia desenvolvido um sistema anteriormente que permitia a uma pessoa escrever imaginando mover o braço como um cursor em uma tela de computador e clicando nas letras. O aparato permitia escrever a uma velocidade de 40 caracteres por minuto.
O participante do experimento mais recente havia recebido dois chips na parte do cérebro que controla os movimentos das mãos e braços como parte de um outro estudo, chamado BrainGate2, encabeçado pela Universidade Brown.
Uma parcela das pessoas que perdem movimentos do corpo devido a doenças degenerativas ou acidentes pode se beneficiar de interfaces como a desenvolvida pelos pesquisadores americanos. Isso porque, nessas pessoas, os comandos cerebrais responsáveis pelos movimentos seguem ativos. A chave está em traduzir os comandos em ações.
O físico britânico Stephen Haking (1942-2018) usava uma interface cérebro-máquina para se comunicar. O aparelho de Hawking usava um sensor que captava as contrações de sua bochecha e as transformavam em letras e palavras.
Hawking perdeu movimentos do corpo como consequência da esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa do sistema nervoso.
O aparelho permitia ao cientista trabalhar, escrever livros e realizar palestras –Hawking foi um dos mais prolíficos divulgadores de ciência em vida.
Agora, os pesquisadores americanos devem testar o sistema que escreve com o pensamento em pessoas que perderam a capacidade de falar.
O estudo relatado na Nature é um grande avanço para a área das BCIs, mas os cientistas afirmam que este é apenas o começo. “São necessários novos experimentos, em mais participantes, e melhorias no sistema. Mesmo assim, acreditamos que o futuro das interfaces cérebro-máquina intracorticais é brilhante”, escrevem os pesquisadores.
Fonte: BN