Gaúcho de Lavras do Sul, o artista vivia com Parkinson desde 1993 e foi vítima de pneumonia
Um dos mais celebrados nomes da dramaturgia brasileira, Paulo José morreu nesta quarta-feira (11), aos 84 anos, em decorrência de uma pneumonia. Ele estava internado no Rio de Janeiro havia 20 dias. Um dos maiores artistas brasileiros, construiu uma trajetória de grande relevância no teatro, no cinema e na televisão.
Paulo José enfrentava, desde o final de 1993, limitações físicas decorrentes do Parkinson, mas não se deixou abater nestes quase 30 anos pela doença degenerativa. Seguiu trabalhando com a paixão característica tanto no palco quanto diante das câmeras, como mostrou em seus mais recentes trabalhos.
Seu último trabalho na televisão foi em 2014, quando ele fez uma participação na novela da TV Globo Em Família. No folhetim, ele viveu o pai de Virgílio (Humberto Martins) e, como na vida real, seu personagem vivia com o Parkinson. Em 2011, dividiu a cena com Selton Mello no aclamado longa-metragem O Palhaço, dirigido pelo jovem colega.
Na última década, viajou pelo Brasil com suas filhas Ana e Bel Kutner atuando e dirigindo os espetáculos teatrais Um Navio no Espaço ou Ana Cristina César e Histórias de Amor Líquido — apresentados em Porto Alegre, respectivamente, em 2010 e 2011. Uma das últimas visitas de Paulo José ao Rio Grande do Sul foi em dezembro de 2014, quando esteve em Bagé para ser homenageado pelo Festival Internacional de Cinema da Fronteira.
Nascido no dia 20 de março de 1937, Paulo José Gómez de Souza teve sua paixão pelo teatro despertada aos 10 anos, quando foi estudar no Colégio dos Padres Salesianos, em Bagé.
— A coisa que mais me impressionou no colégio foi o teatro. Aquilo foi um deslumbramento, aquela plateia, as cadeiras de fundo de palhinha com um palco escrito na boca de cena utile dulci, do útil ao agradável, que era o lema do teatro de São João Bosco. Então comecei a participar de todas as peças do colégio, eram pelo menos quatro ou cinco por ano. Fiz um grupo conjunto vocal chamado Gauchinhos Destemidos — lembrou Paulo José em depoimento ao projeto Memória Globo, em 2000.
Paulo José foi morar em São Paulo e juntou-se ao Teatro de Arena, coletivo no qual mostrou seus múltiplos talentos: além de atuar, fazia as vezes de contrarregra, assistente de direção, produtor, diretor musical, cenógrafo e figurinista. Estrou na casa nova em 1961, com a peça Testamento de um Cangaceiro, de Chico de Assis.
A carreira no cinema teve início em 1966, com o filme O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade. No mesmo ano, participou de outro título importante do cinema nacional, Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira. Em 1969, atuou em Macunaíma, novamente sob a direção de Andrade, e fez sua estreia na TV Globo, na novela Véu de Noiva, de Janete Clair.
Pelas décadas seguintes, Paulo José seguiu conciliando trabalhos à frente e atrás das câmeras. Quando perguntado sobre o impacto da doença em sua vida, dizia nunca pensar no que ainda poderia fazer na vida e nada arte. Simplesmente ia lá e fazia, um dia após o outro. Para minimizar o tremor e a rigidez provocados pelo Parkinson, colocou um marca-passo no cérebro. Gostava de tocar ao piano obras de seus compositores favoritos, entre eles Tom Jobim.
Durante toda a sua vida, Paulo José fez questão de manter contato com o Rio Grande do Sul. Tinha por hábito passar o Carnaval em Lavras do Sul — foi criado com seus quatro irmãos da família Souza na Estância Cerro Branco, a nove quilômetros da cidade — e rever paisagens e afetos de sua juventude na região da Campanha. Torcia para o time do Guarany, de Bagé, e para o Internacional. Em 2010, o ator desfilou com a escola de samba local Filhos do Sol, que naquela ocasião prestou uma homenagem a sua trajetória com o enredo Utile Dulci, inspirado no lema teatral que o apaixonou no antigo palco de sua infância.
Paulo José foi casado com a atriz Dina Sfat (1938-1989), com quem teve três filhas, as também atrizes Ana e Bel Kutner e a diretora Clara Kutner. Com a atriz Beth Caruso, ele teve o filho Paulo Henrique Caruso de Souza.
Fonte: GZH