Tropeçar, escorregar, perder o equilíbrio e cair são experiências que fazem parte da vida de qualquer um. No entanto, com o avanço da idade, o corpo humano começa a demorar mais para se recuperar desses acidentes. Ao mesmo tempo, alterações na nossa forma de andar e na composição de músculos e ossos tornam as quedas cada vez mais frequentes.
Moisés Cohen, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia e médico no Hospital Israelita Albert Einstein, explica que quedas são comuns, chegando a afetar até 50% das pessoas com idade acima dos 80 anos –a maioria ocorre na residência ou em casas de repouso.
“Não é só pela idade, mas pela fraqueza muscular, a falta de equilíbrio e as condições do ambiente”, conta o ortopedista. “Um tapete de banheiro muito escorregadio, degraus de diferentes níveis, escadas, são situações que predispõem estas quedas.”
Os efeitos destes acidentes são variados. Duas fraturas frequentes acontecem na parte superior do fêmur (o osso mais longo do corpo, que vai do início da coxa até o joelho) e no quadril. Em quedas em que se bate a cabeça, o acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio é um risco muito grave.
Estas lesões costumam ser tratadas com cirurgia, embora outras possam ser resolvidas com imobilização e repouso. “Nem sempre a recuperação total é possível”, alerta Cohen, “por conta da gravidade da fratura e das condições ósseas do paciente”.
Fabrício Buzatto, médico fisiatra, explica: “O processo de recuperação do idoso é totalmente diferente. O corpo responde de forma mais lenta em todo o processo de cicatrização e consolidação óssea.” Ele cita doenças como osteoporose, que enfraquece os ossos e facilita fraturas, e sarcopenia, que reduz a massa muscular – ambas são comuns em idosos, e aumentam o perigo associado às quedas.
BAQUE NA AUTOESTIMA
Mas existem danos invisíveis ao olhar. O acidente pode reduzir a confiança que a pessoa tem em seu corpo, além de aumentar o medo de sofrer novas quedas. O mestre em enfermagem fundamental pela USP (Universidade de São Paulo) Jack Roberto Silva Fhon escreve em tese de doutorado de 2016 que ansiedade, isolamento e depressão são consequências comuns deste tipo de acidente.
“O primeiro passo para recuperar a confiança é tratar bem as consequências”, diz Buzatto. “Depois, melhorar aspectos clínicos. Baixa vitamina D está associada às quedas, assim como deficiência de vitamina B12 e a perda de força e sensibilidade nas pernas. O exame de vista ou oftalmológico também é fundamental”.
O fortalecimento do corpo com exercício físico pode ajudar a retomar suas atividades diárias com segurança. Mas as mudanças também devem ocorrer no ambiente que o idoso habita. “Evitar degraus, desníveis, tapetes soltos e obstáculos pela casa é importante, como a avaliação da saúde”, afirma o fisiatra.
Moisés Cohen sugere a instalação de adaptações de barras de apoio, principalmente nos banheiros e box, bem como uma cadeira higiênica para se sentar durante o banho. Os especialistas chamam atenção aos animais de estimação, que, ao correr pela casa ou pular em seus donos, podem provocar graves acidentes.
Quando houver dor ou tontura, o ideal é não tentar levantar-se sozinho. Ter um telefone ou um alarme por perto é essencial para chamar ajuda.
SAIBA MAIS
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), entre 28% a 35% dos idosos com mais de 65 anos sofrem quedas todos os anos; a frequência aumenta com a idade. Mas há como evitar!
LESÕES MAIS COMUNS
Fraturas (frequentemente no quadril e fêmur)
Deslocamento das articulações
Torções
Escoriações, ou ferimentos com pontos
DORES INVISÍVEIS — A síndrome pós-queda
Confusão, queda na autoestima ou depressão
Medo ou ansiedade ao realizar tarefas simples ou abandonar atividades diárias para não voltar a cair –afetando o autocuidado e relacionamento com outras pessoas
Aumento na dependência e a perda de autonomia
FATORES DE RISCO:
– Saúde
Fragilidade (baixa energia, caminhar mais lento, perda de força e de massa muscular)
Múltiplas doenças, em especial relacionadas ao coração, músculos e ossos
Problemas de visão
Doença de Parkinson ou demências
Uso de múltiplos medicamentos, principalmente sedativos
– Comportamento
Consumo excessivo de álcool
Calçados inadequados (andar descalço ou só de meias; chinelos com solas escorregadias, saltos altos, solas finas e duras, e sapatos grandes ou pequenos demais)
Falta de exercícios
Histórico de quedas
– Ambiente
Degraus estreitos Pisos escorregadios, principalmente em escadas Tapetes e fios soltos Iluminação insuficiente Calçadas com rachaduras e buracos Móveis instáveis
Como evitar:
– Saúde:
Gerenciamento e redução do número de medicamentos, quando possível
Tratamento de visão
Prevenção das quedas de pressão arterial ou hipotensão ortostática
Suplementação de vitamina D e cálcio
Reabilitação dos problemas de mobilidade e fraqueza
– Comportamento:
Moderação no consumo de álcool
Prática consistente de exercícios, sem focar na intensidade
Treinamento de equilíbrio e marcha (caminhar), com uso de artefatos de apoio
Uso de calçados antiderrapantes e confortáveis
– Ambiente
Corrimão nos dois lados das escadas
Barras de apoio em todos os cômodos
Boa iluminação durante todo o dia
Pisos antiderrapantes, principalmente nos banheiros e box do chuveiro
Fonte: BN