Em meio à pandemia, setor de moda registra crescimento de mais de 16%

Beatriz enfrentou o desafio de criar um negócio na pandemia/Foto: Rafael Martins/Ag. A TARDE

Apesar de ter sido um dos mais afetados pela pandemia da Covid-19, o setor de moda cresceu no período. Segundo levantamento realizado pelo Sebrae com dados da Receita Federal, mais de 440 milhões de brasileiros abriram um negócio ligado à moda em 2020 e 2021, o que representa um aumento de 16,5% em relação ao mesmo período de 2018 e 2019.

Patrícia Castro, gestora do projeto de moda do Sebrae em Salvador, conta que esse “foi um dos setores mais afetados já que não se configura como um setor de primeira necessidade”. Apesar dessas dificuldades, a gestora explica que dois fatores foram importantes para uma maior quantidade de negócios desse tipo durante a pandemia: “O crescimento do setor deve-se a pouco volume de investimento e poucas barreiras de entrada do empreendedor no varejo de moda”.

Ainda de acordo com o levantamento do Sebrae, 90% desses empreendedores optaram por ser microempreendedores individuais (MEI). Esse registro traz benefícios para o profissional autônomo, como ter um CNPJ, emitir notas fiscais e garantia de direitos previdenciários. “Pela própria característica do setor, a criação da figura jurídica do MEI absorveu parte da informalidade”, conta Patrícia.

A categoria MEI foi criada com o objetivo de regularizar a situação de profissionais informais e para o cadastro é necessário que sua atuação esteja na lista oficial. “Muitos potenciais empreendedores que perderam suas posições de trabalho migraram para outras atividades comerciais, tendo na formalização uma oportunidade de geração de renda”, explica a gestora.

Patrícia explica que mesmo sendo um mercado com muitas opções e poucas barreiras, ainda há espaço para empreender nele. “É preciso investir em planejamento e ter responsabilidade com o negócio, escolher qual nicho vai participar e seus diferenciais competitivos. E aí com certeza você vai ser mais bem sucedido do que outro que entre para copiar alguém”, comenta.

A marca Desimpedida, de vestuário voltado para o esporte feminino, foi uma das que surgiram nesse período. Beatriz Faria é uma das sócias e conta que tiveram a ideia no começo de 2021. “Foi bastante complexo porque durante a pandemia foi muito difícil a comunicação com outras empresas. A dificuldade foi que não podíamos ter muitos fornecedores porque íamos nos colocar em risco. A gente teve que ser muito assertivo”, lembra Beatriz.

Apesar das dificuldades, a vontade de abrir a empresa superou os problemas: “A maior motivação mesmo é estar alavancando o fomento do esporte feminino, dizer que as mulheres também têm espaço aqui. Se reparar, tudo voltado para esporte e vestimenta é para o público masculino, então nunca tinha nada que as mulheres pudessem vestir a camisa e serem representadas por aquilo que estão vestindo”, destaca a empreendedora.

Beatriz explica que mesmo com os problemas do comércio para o setor, a Desimpedida não sentiu tanto esse prejuízo: “Conseguimos um leque muito grande para a venda dessas camisas. A gente não vê concorrentes, não tinha nenhuma marca que representasse o esporte feminino, foi meio que uma novidade aqui em Salvador”, diz a empreendedora.

“Como não focamos em loja física, não tem dificuldade de ter custos físicos, ficou realmente tudo ali no Instagram e site. A pandemia educou as pessoas a comprarem online e até abriu porta para isso”, conta Beatriz.

Comércio eletrônico

Uma pesquisa feita pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou que 84% dos empreendedores do segmento de moda utilizaram o comércio eletrônico para negociar seus produtos na pandemia. A média geral era de 70%, o que mostra a grande adesão desses negócios. Além das redes sociais, as principais plataformas usadas foram aplicativos como Mercado Livre e OLX.

A gestora do Sebrae Salvador reforça que o meio eletrônico foi um “canal muito importante de comercialização e tornou-se fundamental para a sobrevivência do setor”. E de acordo com ela, a retomada já começou, principalmente impulsionada pelas datas comemorativas do varejo como Dia das Crianças e Black Friday.

E até os negócios mais consolidados também passaram por renovações. Surgida em 2005, a loja NBlack foi uma das empresas que passaram por essas mudanças durante a pandemia. “Depois do entretenimento, o setor de moda com certeza foi um dos mais prejudicados, porque ninguém queria comprar”, conta Najara Souza, fundadora da empresa.

Ainda em 2020, o primeiro passo que ela deu foi decidir não produzir mais estoque até liquidar o que já tinha. “Fiquei uns três meses divulgando, fazendo muito vídeo em casa, participando de muitas lives. Eu me fiz presente o tempo todo nas redes e a gente começou a vender bem”, lembra Najara. Mas a empresária diz que o maior investimento que fizeram foi investir ainda mais em roupas confortáveis, principalmente pijamas, produto que estava com maior demanda.

Depois que as vendas se estabeleceram no novo modelo, em 2021, Najara abriu lojas em três shoppings de Salvador: o Shopping da Bahia, o de Cajazeiras e o Paralela. Ela acredita que essa expansão veio principalmente de oportunidades que teve nesse período.

E estando dentro do mercado do varejo de moda e vestuário, a empresária percebeu que muitas pessoas decidiram e precisaram empreender durante a pandemia para ganhar dinheiro. “Não só no mercado da moda, mas em vários outros setores. Muita gente ficou desempregada, em um momento de desespero, de necessidade, então novas marcas e produtos surgiram. A pandemia também serviu para as pessoas perceberem suas habilidades”, explica Najara.

Fonte: A Tarde

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