Subsídio ao transporte urbano tem apoio unânime e segue para a Câmara

Foto: Reprodução

O transporte urbano poderá contar com subsídios federais por três anos. Em sessão que contou com a presença de prefeitos de várias capitais, o Senado aprovou em votação simbólica nesta quarta-feira (16) o projeto que institui o Programa Nacional de Assistência à Mobilidade dos Idosos em Áreas Urbanas (Pnami). De acordo com seus autores, o objetivo do PL 4.392/2021, que segue para exame da Câmara, é subsidiar o direito à gratuidade nos transportes coletivos urbanos para maiores de 65 anos e, ao mesmo tempo, garantir tarifa baixa para os demais usuários. De acordo com o relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM), a proposta permite que isso seja alcançado sem comprometer o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão do transporte público coletivo. Para isso, o relator definiu como fonte de recursos os royalties de petróleo.

O projeto, dos senador Nelsinho Trad (PSD-MS) e Giordano (MDB-SP), prevê aporte financeiro da União aos estados, Distrito Federal e municípios que oferecerem serviços de transporte público coletivo urbano regular. Os recursos serão enviados a fundos de transporte público coletivo, que deverão ser criados pelos entes federados, com distribuição proporcional à população maior de 65 anos residente em cada localidade.

No caso de transporte intermunicipal em regiões metropolitanas ou regiões integradas de desenvolvimento, 20% do valor do fundo será retido pela União e repassado ao ente federativo responsável.

O projeto também modifica o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 2003), para garantir que tenha acesso à gratuidade nos transportes o cidadão que apresentar qualquer documento pessoal com fé pública que faça prova de sua idade. Além disso, o poder público responsável deverá priorizar o atendimento ao idoso, mediante o estabelecimento de procedimentos rápidos, visando o cadastramento para o exercício do direito de acesso gratuito ao transporte público.

Pandemia

Na justificação do projeto, os senadores argumentam que a pandemia de covid-19 impactou o equilíbrio financeiro do transporte público, principalmente nas cidades mais populosas: pelo menos 36 municípios já colocam subsídios no sistema de transporte público para reduzir compensar a redução da arrecadação tarifária.

“Porém, frente ao aumento dos gastos orçamentários enfrentados pelos municípios, com cada vez menos condições de apoiar financeiramente o serviço  de transporte  público  coletivo  urbano  e  mantê-lo  a  serviço  da  população,  a situação  e  a  perspectiva  dos  sistemas  são  alarmantes”, afirmam.

Nelsinho Trad e Giordano mencionaram dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos  (NTU), que contabilizou 283 paralisações ou  suspensões temporárias do serviço de transporte público em 93 cidades. Além disso, segundo a associação, mais de 80 mil empregos no setor foram eliminados e o déficit acumulado desde março de 2020 ultrapassa R$ 16 bilhões.

De acordo com os senadores, as gratuidades ou isenções tarifárias, que têm a natureza jurídica de medida assistencial, devem ser sustentadas conforme determina a Constituição: por recursos públicos orçamentários. Eles lembram que, no Brasil, com poucas exceções, o custeio da  gratuidade dos idosos é repassado aos demais usuários pagantes, onerando principalmente as pessoas menos favorecidas que mais utilizam o serviço. “Quanto maior o número de usuários beneficiados pelas gratuidades, maior será o impacto na tarifa”, explicam.

Mitigação da crise”

Em seu relatório, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) citou o apoio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) ao PL 4.392/2021, que, segundo o entendimento da entidade, é “o único que contribui efetivamente para a mitigação da crise atual”. Ele acrescentou, na discussão da matéria, que os municípios já estão tendo que tomar recursos de suas receitas de IPTU e INSS para subsídios ao transporte.

— Em vez de aplicarem na educação, em vez de aplicarem na saúde básica das cidades brasileiras, estão sendo obrigados a subsidiar o transporte urbano para que isso não exploda no país, como já aconteceu em 2013, quando um pequeno reajuste na passagem acendeu a fagulha e colocou 2 milhões de brasileiros nas ruas, protestando e reivindicando novos direitos.

Na análise das emendas, Eduardo Braga acolheu a supressão — sugerida por vários senadores — do artigo que retiraria do Estatuto do Idoso a gratuidade prevista para os serviços semiurbanos e determinava o cadastramento prévio do idoso para o exercício do direito à gratuidade no transporte urbano. Ele entendeu que a retirada de direitos poderia implicar em vício de constitucionalidade do projeto.

O relatório também incorporou uma emenda da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) pela qual os idosos não terão seus benefícios suspensos mesmo se não ocorrer o repasse dos recursos de que trata o projeto. Outra emenda acolhida foi a do senador Paulo Paim (PT-RS), pela qual foi alterada a redação de dispositivo que poderia ser interpretado no sentido de custear a gratuidade nos transportes com recursos da assistência social a pessoas com deficiência e idosos carentes.

Royalties

Eduardo Braga também acrescentou, por meio de emenda de sua autoria, a vinculação de parte das receitas dos royalties do petróleo para o financiamento dos gastos do Pnami. Seu objetivo foi adequar o projeto à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), segundo a qual os atos criadores de despesas obrigatórias de caráter continuado deverão trazer a estimativa de seu impacto nas finanças e a indicação de sua fonte de custeio. Segundo as estatísticas apresentadas pelo relator, a proposição deverá criar gastos de R$ 5 bilhões por ano.

“A receita de royalties do petróleo pertencente à União é mais do que suficiente para financiar essas novas despesas. Em 2021, por exemplo, somente a parcela dos royalties apropriada pela União superou R$ 11 bilhões, mais que o dobro do que se projetava. Considerando que o petróleo gera outras receitas, como a participação especial, o bônus de assinatura e as receitas com óleo excedente do regime de partilha de produção, o programa deverá gastar somente uma fração do que o governo arrecada”, argumentou, acrescentando que a vinculação aos royalties evitará que o Congresso tenha que deliberar anualmente sobre os gastos com o subsídio ao transporte público.

Outras emendas do relator limitam a vigência da norma a três anos; incluem como destinatários dos recursos do Pnami os municípios (não somente os estados) gestores de sistemas de transporte metropolitano; e determinam ampla publicidade aos recursos repassados no âmbito do programa.

Saúde e educação

Na discussão do projeto, atendendo a questionamento do senador Paulo Rocha (PT-PA), Eduardo Braga esclareceu que os recursos de royalties a serem destinados ao Pnami são os da União, não dos estados e municípios, e assegurou que o repasse de um valor fixo de R$ 5 bilhões durante a vigência da norma não prejudicará os setores de educação e saúde.

— Nós estamos apontando um recurso de royalties no momento em que o barril de petróleo está em torno de US$ 100, enquanto que a estimativa que o governo vinha trabalhando era de US$ 45. Isso tudo aponta para um excesso de arrecadação nos royalties de petróleo (…). Esses impostos são importantes para a União, para o estado e para os municípios e creio que, durante três anos, eles terão uma função fundamental: garantir a mobilidade dos idosos — afirmou.

Eduardo Braga também mencionou as recentes catástrofes dos desmoronamentos em Petrópolis (RJ) e Niterói (RJ) para ressaltar a necessidade de preparação dos municípios através de políticas de saneamento e habitação.

Apoios

O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) disse esperar que o projeto possa conter os aumentos dos preços das passagens de ônibus. Ele pediu também que o programa não seja limitado a três anos de vigência. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) lamentou a concentração de serviços públicos, determinada pela Constituição, nas mãos dos prefeitos sem a proporcional desconcentração dos recursos, e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apelou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para não vetar uma ação concreta a favor dos municípios.

Também se pronunciaram em apoio ao projeto os senadores Paulo Paim, Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Lasier Martins (Podemos-RS), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Alessando Vieira (Cidadania-SE), Sérgio Petecão (PSD-AC), Fabiano Contarato (PT-ES), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Esperidião Amin (PP-SC). Depois da aprovação, Nelsinho Trad e Giordano agradeceram aos parlamentares.

Entre os prefeitos que acompanharam a sessão estavam Bruno Reis, de Salvador; Sebastião Melo, de Porto Alegre; Ricardo Nunes, de São Paulo; Tião Bocalom, de Rio Branco; Edmilson Rodrigues, de Belém; e Edvaldo Nogueira, de Aracaju, que é presidente da Frente Nacional de Prefeitos.

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária semipresencial. Na ordem do dia, projeto que institui o Programa Nacional de Apoio à Aquisição de Habitação para Profissionais da Segurança Pública, o Habite Seguro (PLV 1/2022, proveniente da MP 1.070/2021). Em discurso, à tribuna, relator do PL 4.392/2021, senador Eduardo Braga (MDB-AM). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Eduardo Braga (MDB-AM), relator do PL 4.392/2021, que determina subsídio federal para garantir gratuidade de transporte público aos maiores de 65 anos
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária semipresencial. Na ordem do dia, projeto que institui o Programa Nacional de Apoio à Aquisição de Habitação para Profissionais da Segurança Pública, o Habite Seguro (PLV 1/2022, proveniente da MP 1.070/2021). Em pronunciamento, à bancada, senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Foto: Pedro França/Agência Senado
Nelsinho Trad (PSD-MS) é um dos autores da proposta, que segue para a Câmara
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária semipresencial. Na ordem do dia, projeto que institui o Programa Nacional de Apoio à Aquisição de Habitação para Profissionais da Segurança Pública, o Habite Seguro (PLV 1/2022, proveniente da MP 1.070/2021). À tribuna, em discurso, senador Giordano (MDB-SP). Foto: Pedro França/Agência Senado
Giordano (MDB-SP) também foi autor do PL 4.392/2021, em parceria com Nelsinho Trad
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária semipresencial. Na ordem do dia, projeto que institui o Programa Nacional de Apoio à Aquisição de Habitação para Profissionais da Segurança Pública, o Habite Seguro (PLV 1/2022, proveniente da MP 1.070/2021). Bancada: senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA); senador Humberto Costa (PT-PE); senadora Rose de Freitas (MDB-ES); senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA); SENADORES; senador Humberto Costa (PT-PE). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Eduardo Braga (MDB-AM), relator, conversa com colegas durante a sessão plenária
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária semipresencial. Na ordem do dia, projeto que institui o Programa Nacional de Apoio à Aquisição de Habitação para Profissionais da Segurança Pública, o Habite Seguro (PLV 1/2022, proveniente da MP 1.070/2021). Participam: presidente do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG); senador Eduardo Braga (MDB-AM); senador Giordano (MDB-SP); prefeito de Aracaju e presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Edvaldo Nogueira; prefeito de Salvador e vice-presidente de PPPs e Concessões da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Bruno Reis; prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues. Foto: Pedro França/Agência Senado
Senadores e prefeitos de capitais comemoraram a aprovação do projeto junto ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco

Fonte: Agência Senado

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