Bolsa fecha em alta após apoio a Lula de economistas do Plano Real

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

A Bolsa de Valores fechou com ligeira alta nesta quinta-feira (6) após ter atingido as máximas do dia pela manhã, quando circulou a notícia de uma manifestação de economistas ligados à criação do Plano Real a favor da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O índice Ibovespa, referência da Bolsa brasileira, subiu 0,31%, aos 117.560 pontos, apesar do contexto internacional pouco favorável, com os principais indicadores do mercado global em baixa.
Perto das 11h, o Ibovespa alcançou a maior patamar da sessão, subindo aos 118.382 pontos.
Os economistas Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, e Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, divulgaram nota nesta quinta declarando que vão votar em Lula no segundo turno da eleição presidencial.
Os economistas Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Persio Arida, outro economista que participou da formulação do Real, já haviam anunciado essa opção, mas também assinam a nota.
Os quatro afirmam que a expectativa é que o candidato do PT tenha uma condução responsável na economia.
Analistas já tinham sinalizado a expectativa de que o resultado apertado do primeiro turno, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) tendo alcançado uma votação acima da esperada, obrigaria a candidatura petista a dialogar com nomes alinhados ao capital. A manifestação de pesos-pesados da economia nacional nesta quinta reforçou essa narrativa.
“O mercado está gostando desse apoio do pessoal que participou do Plano Real ao Lula”, afirmou Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital. “Isso mostra que o Lula está saindo um pouco da esquerda e indo mais ao centro”, comentou.
Ilan Arbetman, analista de pesquisa da Ativa Investimentos, disse que não houve um catalisador claro sobre o mercado nesta quinta, mas considerando que o exterior recuou mesmo com a divulgação de que aumentaram os pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos —esse dado costuma ser lido como um sinal de redução da pressão inflacionária e potencialmente favorável às ações—, a corrida eleitoral é o que melhor explica o desempenho da Bolsa no Brasil.
Para Arbetman, o mercado enxerga “um prolongamento do recado das urnas, que elegeram mais governadores, senadores e deputados de direita”, disse. Isso cria a expectativa de que Lula, caso seja eleito, poderá “ir mais para o centro” ou “ao menos abrir um diálogo com a direita”, comentou.
O mercado de ações do Brasil avança quase 7% nesta semana, refletindo em grande parte esse otimismo de investidores com os possíveis efeitos da disputa mais acirrada entre Bolsonaro e Lula no segundo turno.
“O PT percebeu agora que vai precisar adotar uma política de mais responsabilidade fiscal e caminhar mais para o centro”, opinou Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos. “Essa sinalização é positiva para o Ibovespa.”
Cohen ainda ressaltou que a notícia entendida como favorável à candidatura do ex-presidente colaborou com altas de ações de empresas do ramo educacional, como Cogna e Yduqs, que subiram 6,85% e 4,98%, respectivamente. “Sabemos que o setor de educação seria um dos principais beneficiados em um governo de Lula.”
DÓLAR SOBE DIANTE DO TEMOR DE MAIS INFLAÇÃO APÓS CORTE DO PETRÓLEO
O bom humor momentâneo do mercado acionário local não foi suficiente, porém, para barrar a alta do dólar, cuja cotação avançou contra as principais divisas mundiais diante da preocupação com o impacto na inflação do corte da produção de petróleo anunciado na véspera.
No câmbio do Brasil, o dólar comercial à vista subiu 0,44%, cotado a R$ 5,21 na venda.
A moeda americana avançou contra os principais pares nesta quinta, revelando a preocupação com a ameaça de reforço da inflação após o anúncio de uma expressiva redução da produção de petróleo por parte do cartel de países produtores e seus aliados, conhecido pela sigla Opep+.
O volume de corte anunciado nesta quarta (5), na ordem de 2 milhões de barris por dia, surpreendeu o mercado, que esperava a metade disso. Essa redução na produção será a maior desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020.
No encerramento da tarde desta quinta-feira, o barril do petróleo Brent subia 1,69%, cotado a US$ 94,95 (R$ 493,75). O preço da matéria-prima já avançou 7% nesta semana.
Restringir a oferta é a estratégia da Opep para elevar os preços, que caíram mais de 20% no terceiro trimestre devido ao aumento da percepção de que o cenário internacional de alta dos juros para frear a inflação poderá trazer severo prejuízo para o crescimento da economia mundial.
Ações de empresas ligadas à mercadoria foram beneficiadas pela escalada no preço. No Brasil, os papéis mais negociados da Petrobras fecharam em alta de 3,41%.
De modo geral, porém, os mercados acionários estão reagindo mal à retomada da alta dos custos da energia, um dos principais motivos desde o início da Guerra da Ucrânia, em fevereiro, para a crise inflacionária que está forçando bancos centrais a elevarem suas taxas de juros.
Em Wall Street, os principais índices recuaram nesta quinta pelo segundo dia consecutivo. O S&P 500, parâmetro da Bolsa de Nova York, caiu 1,02%. Dow Jones e Nasdaq perderam 1,15% e 0,68%, respectivamente.
A necessidade de aumento exagerado do preço do crédito é temida por investidores porque poderá impor uma forte desaceleração da economia mundial, cujos efeitos seriam a queda generalizada dos investimentos em empresas e, consequentemente, aumento do desemprego.

Fonte: BN

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