Religiosos festejam e cobram respeito no Dia Nacional do Candomblé

Cerimônias acontecem na capital e marcam data de luta e celebração

Salvador – Foto Legenda
Inauguração do Parque Pedra de Xangô, em Cajazeiras X.
Foto: Shirley Stolze /

Nesta terça-feira, 21 de março, se comemora pela primeira vez o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, também conhecido como Dia do Candomblé. Para marcar a data, cerimônias acontecem na capital baiana enquanto religiosos relembram que é um dia não só de celebração, mas de luta e resistência pela prática das religiões de matriz africana.

Hoje, às 14h ocorre o 1° Xirê em homenagem à promulgação da lei que instituiu o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, no Parque Pedra de Xangô, em Cajazeira 10, realizado pela A Voz do Candomblé e pelas Guardiãs da Pedra de Xangô.

No próximo sábado, o Terreiro da Casa Branca, em parceria com o Samba Pra Rua, promove “Os batuques do meu Axé: do barracão de Tia Ciata ao de Mãe Neuza de Xangô”. O evento começa, às 17h30, como forma de honrar o dia 21 de março e denunciar o racismo religioso e tem apoio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).

“Já era necessário isso há muito tempo, porque nós temos que reconhecer que essas tradições africanas fazem parte do tesouro da cultura nacional e uma parte muito significativa”, afirma Ordep Serra, antropólogo, escritor, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e presidente da Academia de Letras da Bahia. Ele também pontua que o Brasil tem uma séria dívida com o povo negro. Para ele, 21 de março é um convite a lutar contra a ignorância, o desprezo, o preconceito e a injustiça.

A Lei 14.519/23 foi sancionada pelo presidente Lula, em janeiro deste ano, e institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé como celebração anual. A data também é Dia Internacional contra a Discriminação Racial estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória ao massacre de Sharpeville em 1960.

Marcos Vinícius dos Santos, ogã do Ilê Axé Opô Onirê, relata que essa data é uma reparação. “Talvez tranquilize mais o nosso povo, melhore um pouco mais para essa nova geração do Candomblé. Que venham mais leis para melhorar. Todo tipo de lei não é favor, é reparação”, pontua Marcos.

De acordo com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), foram registrados 23 casos de intolerância religiosa envolvendo o Candomblé em 2022. Este ano, até agora foram registrados 8 casos.

“Eu acho que a gente tem que celebrar, mas eu me preocupo com o que a gente tem de conquista efetivada de políticas públicas e como está a questão da violência contra o povo de religião de matriz africana. Nós somos um povo, não somos só religião. A gente tem direito a vida, a se alimentar, a viver livre, nossas crianças nas escolas não sofrerem perseguição, os nossos jovens não sofrerem retaliação”, pondera a ialorixá do Ilê Axé Abassá de Ogum, Jaciara Ribeiro que perdeu a mãe biológica – a ialorixá Gilda de Ogum– que sofreu um infarto por conta de um caso de intolerância religiosa praticado pela Igreja Universal do Reino de Deus.

*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira

Fonte: AT

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