Passeio foi atividade de faculdade para idosos
A juventude e beleza da Barbie são cobiçadas por muita gente, mas a turma da Faculdade da Maturidade Graça Senna mostra que alcançar a velhice também tem o seu valor. Com foco em manter os alunos com uma vida ativa e por dentro dos assuntos mais comentados do momento, a Faculdade da Maturidade levou 10 alunas para assistir o filme da Barbie no cinema do Shopping Salvador, nesta sexta-feira (04).
Todas foram vestidas com roupas cor de rosa e roubaram a atenção dos clientes, tanto pelo encontro inusitado, como pelo vigor. “Eu costumo dizer que sou uma bela adormecida acordando para a vida. Quando me aposentei, achei que a vida tivesse acabado e meu dia se resumia a cuidar de casa e dormir à tarde. Depois da faculdade eu encontrei uma nova versão de mim, que se diverte, aprende, malha e não pensa em parar”, garantiu a aposentada Gilda Sampaio, de 70 anos.
Como a Barbie só chegou ao Brasil 23 anos depois de ter sido lançada nos Estados Unidos, Gilda não brincou com a boneca, mas viu as três filhas brincarem, e reconhece que as polêmicas sobre a classificação indicativa do filme nas redes sociais, a deixou curiosa para assistir e tirar suas próprias conclusões. O mesmo vale para a aposentada Maria Carmen dos Santos, 66, que integrava o grupo.
Somado a curiosidade de conferir se a quantidade de comentários sobre o filme faz juz a qualidade da produção, fazer mais um passeio com o grupo de idosas era o melhor do dia para Maria Carmen. “Eu estou achando ótimo, depois que o meu marido morreu eu nem queria sair, mas minha filha insistiu e, depois que eu comecei, não quis mais parar. Agora estou fazendo hidroginástica, pilates… Estou vivendo agora”, contou a aposentada.
Além de se jogar nas aventuras com a turma, a aposentada Hortênsia de Paula, 75, também arrasta o marido, Flávio de Paula, 80. Apesar de não estar matriculado na faculdade, ele faz questão de acompanhar os encontros e entrar nas brincadeiras. Por ter sido o único homem da turma e estar vestido com roupa cor de rosa, ele foi classificado como o Ken da Barbie.
Hortência e Flávio na caixa da Barbie. Crédito: Arquivo Pessoal
Não à toa, já que Hortência gosta tanto da Barbie que tem três bonecas e levou uma delas para o passeio. A produção também foi caprichada no rosa. “Se você entrar na minha sala vê logo. Sou apaixonada desde pequena. Fazia boneca de pano e costurava roupas para as [bonecas] de plastico”, contou a aposentada.
Ocupar o dia com atividades que instigam, se organizar para um passeio, aprender sobre novos temas e dividir opiniões sobre assuntos que estão em alta, são práticas que renovam e mantém a vida ativa. Segundo a diretora da Faculdade da Maturidade Graça Senna e gerontóloga especialista no envelhecimento saudável, Graça Senna, o filme é apenas um pretexto para motivar a turma, mostrando que a velhice não precisa ser desanimada.
“É um projeto de qualidade de vida. Os dados do último censo são assustadores, porque mostram que a sociedade não está preparada para atender os velhos e as velhices, que são várias. Há uma desigualdade muito grande. Aqui [no grupo que foi ao cinema] tem muita gente com o perfil ativo e saudável, mas a grande maioria não tem. São pessoas que precisam da saúde pública e de políticas públicas que ainda precisam ser implementadas”, destacou Graça.
A Faculdade da Maturidade funciona há 30 anos, oferecendo educação continuada e qualidade de vida para pessoas de ambos os sexos, a partir de 50 anos, com oficinas, aulas e encontros externos, como o desta sexta-feira. As atividades acontecem no espaço da Santa Casa da Bahia, no bairro de Nazaré, em Salvador.
Para a empresária Larisse de Brito, 27, que estava entre os clientes do shopping que não resistiram ao carisma do grupo de idosas e pediu para tirar fotos, ve-las se divertindo e entrando na onda da Barbie, com roupas cor de rosa, desmistifica a ideia de que a velhice é um empecilho para continuar vivendo bem. “Eu estava passando e achei muito interessante ver um grupinho de idosas tão jovens e confiantes. É muito bom, porque quebra os nossos preconceitos”, disse.
A ideia do passeio barbiecore foi da professora de moda, estilo e comportamento da faculdade, Ludmila Olicar. Antes da ida ao cinema, a turma assistiu uma aula sobre a história da boneca, desde a criação dela, até à ampliação da linha com brinquedos inclusivos. “Ela é um ícone de moda e estilo, e influenciou muita gente antes de falar sobre representatividade e inclusão. Agora, a linha precisa avançar nas questões econômicas, para ser realmente para todo mundo, porque para muita gente ainda é cara”, ponderou Ludmila.
Fonte: Correios