Copom mantém Selic no patamar de 10,5% ao ano de forma unânime e recebe críticas; veja

Comitê de Política Monetária do BC.

Taxa Selic pode ser mantida em 10,50%
(ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

A recente alta do dólar e o aumento das incertezas econômicas levaram o Banco Central (BC) a interromper o corte de juros iniciado há quase um ano. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 10,5% ao ano, decisão que já era esperada pelos analistas financeiros.

Esta manutenção ocorre após sete reduções consecutivas da Selic pelo Copom. Na última reunião, em maio, a velocidade dos cortes havia diminuído. De agosto do ano passado até março deste ano, o Copom reduziu os juros básicos em 0,5 ponto percentual a cada reunião. Em maio, a taxa foi cortada em 0,25 ponto percentual.

Diferente da última reunião, que teve um placar dividido, a decisão desta vez foi unânime. Em comunicado, o Copom justificou a interrupção do ciclo de queda dos juros devido ao cenário global incerto, à alta da inflação doméstica e às expectativas “desancoradas” que exigem maior cautela.

“Em relação ao cenário doméstico, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho continuam apresentando um dinamismo maior do que o esperado. A inflação ao consumidor tem mostrado uma trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente estão acima da meta”, destacou o comunicado.

Selic
Segundo o Copom, a conjuntura atual é marcada por uma desinflação mais lenta que o esperado, um cenário global desafiador e a desancoragem das expectativas de inflação pelo mercado financeiro. A situação, segundo o comunicado, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”.

A taxa está no menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário iniciado em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. De agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete reuniões seguidas antes de começar a ser reduzida.

Antes do ciclo de alta, a Selic estava em 2% ao ano, o nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Devido à contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central reduziu a taxa para estimular a produção e o consumo. A Selic ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o IPCA subiu para 0,46%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos puxaram o indicador após as enchentes no Rio Grande do Sul.

Com o resultado, o indicador acumulou alta de 3,93% em 12 meses, cada vez mais distante do centro da meta deste ano. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderia superar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5% neste ano.

No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo Banco Central, a previsão era que o IPCA terminasse 2024 em 3,5%. A estimativa, contudo, foi feita antes da alta do dólar e das enchentes no Rio Grande do Sul. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.

As previsões do mercado são mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deve fechar o ano em 3,96%, abaixo do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 3,8%.

Crédito mais barato
A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia, pois juros mais baixos tornam o crédito mais barato e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central aumentou para 1,9% a projeção de crescimento para a economia em 2024.

O mercado projeta um crescimento um pouco melhor. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem uma expansão de 2,08% do PIB em 2024.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao aumentá-la, o Banco Central controla o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.

A decisão do Copom de interromper o ciclo de cortes da taxa Selic foi criticada por políticos e pelo setor produtivo, que argumentam que a manutenção dos juros em 10,5% ao ano prejudica a recuperação da economia.

Em postagem na rede social X (antigo Twitter), a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffman (PR), classificou a decisão do Copom como injustificada. “Não há justificativa técnica, econômica e muito menos moral para manter a taxa básica de juros em 10,5% [ao ano], quando nem as mais exageradas especulações colocam em risco a meta de inflação. Não será fazendo o jogo do mercado e dos especuladores que a direção do BC vai conquistar credibilidade, nem hoje, nem nunca”, criticou a parlamentar.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom foi inadequada e excessivamente conservadora. Na terça-feira (18), a CNI havia pedido que o BC continuasse a cortar os juros básicos da economia. Segundo a entidade, a decisão impõe restrições adicionais à atividade econômica, com reflexos negativos sobre o emprego e a renda, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício.

“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação”, defendeu, em comunicado, o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Associação
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) afirmou que a manutenção da taxa básica de juros pelo Copom em patamares elevados reflete uma postura cautelosa diante da inflação, que está em patamar baixo para o padrão brasileiro. Segundo a Abimaq, o atual nível de juros gera preocupações significativas sobre os efeitos adversos no crescimento econômico, pressionando negativamente o setor produtivo e desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país.

A Associação Paulista de Supermercados (Apas) informou que parte do mercado aguardava a manutenção da taxa, mas alertou para os efeitos dos juros altos sobre o nível de atividade doméstica. “A manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano pode prejudicar tanto o investimento quanto o consumo das famílias”, advertiu o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também expressou preocupação. A instituição diz que a estabilização da Selic gera um cenário de menor atratividade para o crédito, prejudicando o setor de comércio e serviços. Além disso, “o freio na queda da Selic ocasiona prejuízos no setor do comércio com o encarecimento do financiamento para as empresas, dificultando o desenvolvimento do país como um todo”, avaliou a CNC.

Centrais sindicais
A manutenção dos juros básicos também recebeu críticas das centrais sindicais. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a medida boicota a economia e aumenta a carga de juros sobre o governo e a população. “Usar o argumento de se preparar para expectativas futuras de inflação maior é uma falácia. A manutenção da Selic alta é proibitiva ao crescimento econômico e reafirma que o órgão é suscetível às pressões do mercado financeiro”, destacou a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidente da CUT, Juvandia Moreira.

A Força Sindical classificou a decisão de “desastrosa”. Em nota, o presidente da entidade, Miguel Torres, disse que o Banco Central frustra os trabalhadores e se curva aos especuladores, beneficiando os rentistas. “Juros altos sangram o país e inviabilizam o desenvolvimento, restringindo o potencial de crescimento do Brasil e os investimentos em educação, saúde e infraestrutura. Baixar os juros é fundamental para a retomada do crescimento sustentável”, destacou Torres.

(Com Agência Brasil).

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